Competição ou Cooperação? O que realmente constrói equipes médicas de alta performance
Por Fernando Carbonieri e Alexander Buarque
“Quem fizer mais procedimentos ganha o bônus.”
“Quem atender mais pacientes será promovido.”
“Quem errar menos entra no plantão de elite.”
Frases como essas, cada vez mais comuns nos bastidores da saúde, revelam uma cultura silenciosa de competição institucionalizada — muitas vezes com consequências mais destrutivas do que motivadoras.
No episódio do podcast da Academia Médica com Alexander Buarque, refletimos sobre como a competição mal conduzida nos hospitais e clínicas está corroendo a cooperação entre equipes, aumentando o estresse e comprometendo a qualidade do cuidado.
A competição como estratégia — ou como armadilha?
A competitividade, em doses saudáveis, pode estimular o crescimento individual e coletivo. Porém, quando ela se torna o centro das relações de trabalho, cria um ambiente de comparação constante, insegurança e isolamento.
Em vez de promover excelência, a competição tóxica gera:
profissionais que escondem informações para se destacar;
líderes que premiam números, não atitudes colaborativas;
equipes que se sabotam mutuamente para parecerem superiores.
No contexto da medicina — onde o cuidado é, por natureza, coletivo e interdependente — esse modelo é contraproducente e eticamente frágil.
Coopetição: o meio do caminho entre rivalidade e colaboração
Alexander traz à tona um conceito relevante: coopetição — a combinação entre cooperação e competição saudável. Nesse modelo, profissionais mantêm autonomia e ambição de crescer, mas sem comprometer o espírito de equipe ou a segurança do paciente.
Na prática, isso significa:
reconhecimento de resultados individuais e coletivos;
metas que valorizam qualidade e não só quantidade;
ambientes em que compartilhar conhecimento é sinal de força — não de vulnerabilidade.
A cultura da escassez como pano de fundo
Por trás da competição tóxica está, quase sempre, um modelo mental de escassez: “Não há espaço para todos, então preciso vencer.” Esse pensamento é alimentado por estruturas hierárquicas rígidas, modelos de remuneração injustos e falta de reconhecimento institucional.
Quando o médico sente que precisa competir por respeito, espaço ou recursos básicos, o ambiente de trabalho deixa de ser um lugar de pertencimento — e se transforma em um campo de batalha silencioso.
Construir segurança psicológica é prioridade
Cooperação genuína só é possível em ambientes que promovem segurança psicológica — onde os profissionais podem errar, perguntar, discordar ou pedir ajuda sem medo de julgamento ou punição.
Isso depende de lideranças preparadas, comunicação clara e modelos de gestão que premiem o espírito colaborativo tanto quanto os resultados clínicos.
Conclusão: o verdadeiro time médico não compete internamente — se fortalece mutuamente
A medicina é um trabalho coletivo. Nenhum resultado clínico de excelência acontece isoladamente. Nutrir um ambiente onde médicos se apoiam, compartilham aprendizados e constroem juntos é uma das chaves para reduzir o burnout, aumentar o engajamento e transformar a cultura organizacional da saúde.
Na Talent Match, acreditamos que alta performance não é fruto de competição cega, mas de propósito compartilhado. Se você quer construir ou integrar equipes médicas mais cooperativas, saudáveis e alinhadas com o futuro da medicina, fale com a gente.
📌 Leitura complementar:
→ O Médico Não É Substituível: desumanização e a falácia da eficiência
🎧 Confira o episódio completo com Alexander Buarque no podcast da Academia Médica.